As amizades são diferentes , os tempos também!
As amizades são diferentes , os tempos também!
Escrevo esta pequena memória pois este mês de Julho foi muito especial para mim: Profissionalmente realizei sonhos e conquistas. Como "Eusinha", foi intenso e emocional, muito devido ao impacto do estado de realização profissional. Daí que o regresso a casa nem sempre foi aquele de criança, com muita coisa para contar. A tarde de ontem foi muito especial, visitei a Sandra, estava calor e por tal fomos para a varanda, entre conversa e histórias aconteceu risada, choro de saudade e uma tal paz de alma 🙏
Encontro d' almasAlguém, um dia disse que sou: Pula de alma africana - Que orgulho meu
Nos anos 70 e 80, recordo que os amigos estavam constantemente por ali, ao nosso redor! Eram os nossos primos, vizinhos, os primos deles e até amigos dos amigos… A escola era o ponto de encontro e provavelmente foi onde tudo começou (não tenho ideia em concreto, apenas sei que tinha amigas e amigos).
Ter irmãos (rapazes) é uma dádiva de deus para mim.
O meu irmão mais velho: Zé (José Fernando) tem uma energia cativante, de discurso "louco" mas com sentido… livre. Uma inspiração.
O Joca (Ricardo Jorge) mais novo do que eu e por tal com experiências diferentes, praticava desporto: futebol (guarda - redes). Se o Zé fazia rir e até irritava com a sua liberdade constante pela forma de estar e de pensar o Joca (o nosso caçula) já era mais introvertido. Também mais jovem - entre os três temos uma diferença de 4 anos! O Joca enquanto jovem, pois agora não estou com ele, era sonhador, tranquilo e vivia para as suas tarefas. Adorava brincar com carrinhos e fazia estradas com molas da roupa. Adorava irritar-me, cortando o cabelo das minhas bonecas! Acho que foi aqui que comecei a brincar com os meus cães e a fazer deles as minhas bonecas!
O Joca adorava comer Bolas de Berlim, de uma confeitaria na Rua do Bonfim - excelente moeda de troca!!! Bons tempos.
Como rapariga (hoje o mundo mudou, quanto a isto) tinha algumas tarefas domésticas, apesar do Zé cozinhar muito bem; o Joca era "subornado" com Bolas de Berlim, lavava a loiça à mão, levava o lixo, etc... (por instantes recordei a nossa primeira máquina de lavar a roupa, a da loiça ainda nem se imaginava!)
Existiram momentos que os observava com orgulho: O Zé, sendo mais velho, era o nosso protetor. Começou a trabalhar muito cedo e era muito feliz no que fazia. O comércio tradicional exigia muitas horas de trabalho, mas havia sempre tempo… De sorriso intenso, de simpatia cativante e sempre com amigos ao seu redor.
Neste momento emociono-me pois recordo que tinha a minha mãe. A falta que me faz.
A nossa casa no Porto era uma porta aberta. A campainha tocava imensas vezes, o telefone de orelhas também, e o nosso quintal palco de festa únicas (aniversários, churrascos, batizados, comunhão, S. João). A Rua Barão de S. Cosme - era o nosso parque, as soleiras da portas as nossas cadeiras preferidas, as voltas ao quarteirão de bicicleta e o jogar a bola nos portões dos vizinhos! O cão ou cadela, a desculpa perfeita para passear, até os animais eram livres - os de grande porte estavam no quintal (A minha Cherry, o meu Nero, e as Tuxas; Pastores Alemães), assim como tudo que tinha penas (Pombas, Canários, etc...; Os de pequeno porte, por casa (A minha Lassie, o meu Toquinho a Boneca - Pinscher e Caniche. Estes nossos amigos tiverem tempos diferentes ao longo da nossa vida no Porto, no entanto tínhamos sempre mais do que um junto de nós.
Alguns anos mais tarde (o Zé adulto, eu adolescente e o Joca ainda um bebé para nós), entrou na nossa vida a Rosarinho - A minha mãe desejou de ter um bebé em casa... mas esta bebé foi aquela lufada de ar fresco… Transformou a nossa vida! Cristiana Pranto
A todos vocês (amigos, primos, vizinhos e amigos de amigos) e não vou referir nomes pois posso me esquecer de algum, desejo as maiores felicidades. Obrigada a todos pois fizeram-me ser feliz - tempos de criança💛💚💙💝
Em suma, hoje reclamamos de falta de tempo e percebo que nem metade fazemos com o tempo que sempre tivemos! Hoje não temos tempo para nós mesmos, para sentar por sentar, para ligar àquela pessoa que foi importante ou especial para o nosso coração, arriscaria até a dizer que já não atendemos a campainha com a velocidade desejada (no fundo creio que sabemos que nenhum amigo irá lá estar do lado de fora, apenas publicidade, consultores, contadores de serviços) Salvo, a "Uber ou Globo e outros serviços que nos trazem felicidade controlada e escolhida por nós mesmos!
A surpresa e o ser surpreendido já não é a mesma coisa! Os amigos cresceram e seguiram os seus caminhos! Eu segui o meu caminho...
Muito fica por contar… (os discos de vinil: LP e Singles, o duplo deck com ponta de diamante! Discos que ainda tenho comigo, em capas que o meu pai tão orgulhosamente guardava)
O meu Porto Sentido
- Álvaro de Campos, 15-10-1929
- ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
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